Seminário reúne pesquisadores e entidades de estados da Amazônia para tratar sobre a pesca e piscicultura em Belém
/Em dois dias, 60 participantes discutiram sobre governança, modernização da cadeia produtiva do pescado e piscicultura. Dentre os resultados do encontro, a necessidade de implementar um sistema de monitoramento continuo da pesca para melhorar o setor na região
Em apresentação, pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi Ronaldo Barthem expôs dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, sobre o consumo e exportação no ano de 2017. Segundo levantamento do órgão, o Pará exporta 38 vezes mais pescado que o Amazonas. 94% da produção é comercializada com 5 países: Estados Unidos, Hong Kong, Vietnã, China, Japão.
Sobre a Piscicultura, o professor da Ufopa, David McGrath destacou o crescimento na Amazônia, por estar baseada principalmente em espécies nativas. “Criadores em Mato Grosso e Rondônia estão investindo na piscicultura e reduzindo investimentos na pecuária, uma vez que a piscicultura tem mais facilidade para atender as exigências da indústria de pescado” explica.
Porém para impulsionar o potencial da cadeia produtiva do pescado, é preciso vencer alguns desafios, como a ausência das condições de governança que viabilizem o manejo sustentável da Pesca, falta de dados sobre a atividade pesqueira, dar assistência técnica para o manejo pesqueiro, piscicultura limitada e incentivar a formalidade da cadeia produtiva.
Mas “por que o comerciante ganha mais que o pescador?” instigou José Vicente Ribeiro – presidente da Industria Pesqueira do Baixo Amazonas sobre os gargalos da cadeia produtiva. Ele esclareceu que muitas vezes, o peixe comprado a 2,70 do pescador, é comercializado ao preço final de 14, dependendo da carga tributária incidente sobre o produto e gastos com transporte e etc.
Para Ribeiro, os maiores desafios da cadeia produtiva são: delimitar estratégias para sair da pesca predatória extrativa associando o cultivo e manejo, conseguir negociar de acordos de pesca formalizados para proibição de redes com malha predatória e realizar fiscalização intermitente no desembarque de Surubim com avaliação do comprimento fiscal.
Nos nove estados da Amazônia legal, há falta de organização na cadeia produtiva da pesca. O coordenador do Laboratório de Geoinformação Aquática – LAGIS/UFOPA - Keid Nolan defende a necessidade de unir esforços para organizar a atividade. “Precisamos de logística e infraestrutura para profissionalizar e modernizar o sistema produtivo da pesca para ter mais qualidade e valor agregado” explica. “a gente precisa se unir e pensar como a gente quer a pesca daqui dez anos, pra isso falta organização” – conclui.
DINÂMICA DO SEMINÁRIO
No primeiro dia do evento (21), treze palestras foram feitas por representantes do Museu Goeldi, Peixe BR, SEDAP, Earth Innovation Institute, UFOPA, SEMAS-PA, SEMMA-AM, MOPEBAM, AQUAMAT, UFPA, Peixes da Amazônia, SEDEME, EDIFRIGO e IFPA.
No dia seguinte, com base nas informações apresentadas, foram formados quatro grupos de trabalho, para elaborar propostas para melhorar a pesca e piscicultura na região amazônica. Os membros trataram sobre governança, modernização da cadeia produtiva do pescado, piscicultura e cadeia produtiva do Pirarucu.
Para fechar a rodada de apresentações, Instituto Mamirauá, WCS e Instituto Peabiru foram representados no fim do evento que encerou na tarde desta sexta (22), no bairro Marco em Belém.
RESULTADOS
Para os moderadores do seminário, o enceramento do evento marca um importante passo para mudanças no setor. “A gente conseguiu identificar problemas, gargalos e oportunidades. Saímos do encontro com bastantes indicadores para uma discussão nos estados sobre o fortalecimento da cadeia do pescado, sobretudo da pesca manejada” – destaca o coordenador da Sapopema, Antônio José Bentes.
Através de um mapeamento, os pesquisadores indicaram pontos relevantes de deficiências e iniciativas bem sucedidas, para compor um documento que deverá subsidiar propostas para o setor. “Eles apontam para implementação de algumas políticas publicas. [O evento] foi muito produtivo do ponto de vista da diversidade da participação de pessoas de vários estados da Amazônia, sobretudo porque nesse momento de declínio da atividade da pesca, de retrocesso na estrutura administrativa, o documento aponta grandes mudanças no sentido de ter uma grande pressão” – diz a professora da Ufopa e pesquisadora da Sapopema, Socorro Pena.