Qualidade da água será monitorada por microscópio de papel por jovens ribeirinhos
/Moradores da comunidade Aracampina no rio Amazonas e aldeia Solimões no rio Tapajós já monitoram o processo migratório de peixes na região. Agora estão recebendo capacitações para analisar a qualidade da água em pontos estratégicos
Entusiasmados, os jovens integrantes do Programa Ciência Cidadã na região oeste do Pará conheceram esta semana um novo instrumento de pesquisa: o microscópio de papel ultraacessível.
Portátil, durável e com qualidade ótica semelhante aos microscópios convencionais (ampliação de resolução de 140X e 2mícrons), o Foldscope possibilita aos estudantes o acesso à ciência, e incentiva a exploração científica, nesse caso à populações tradicionais da Amazônia.
Os jovens cientistas desenvolvem desde o ano passado, pesquisas com o uso de tecnologias. O aplicativo Ictio – desenvolvido para o monitoramento do processo migratório de peixe foi a primeira tecnologia usada por eles: “pra mim tem sido muito importante participar desse projeto. Conheci várias espécies de peixes que eu não conhecia” – destacou o estudante Gilvan Coelho, morador da comunidade Aracampina.
“Não é difícil. Eu aprendi bastante o que eu não sabia. E a gente está aprendendo a manusear uma nova tecnologia” – explicou Mariane franco da aldeia Solimões sobre o contato com o microscópio que analisa dentre outros microrganismos, a qualidade da água.
No encontro realizado nos dias 15 e 16 de janeiro, os professores responsáveis pelo projeto nas comunidades receberam o Kit Individual que Inclui ferramentas para coleta de amostras, preparação de slides e técnicas avançadas de microscopia, além do Kit de sala de aula ideal para educadores e projetos que procuram atender a grupos de exploradores.
“Uma inovação, principalmente nas comunidades ribeirinhas. É um equipamento diferente, de baixo custo que a comunidade pode medir índices que podem ser suspeitos à saúde dentro da sua própria comunidade” disse o gestor de tecnologia do Projeto Saúde e Alegria, Arivan Vinente.
A intenção é que amostras de água de rios e lagos sejam coletadas, principalmente nas áreas de pesca. Com isso, os moradores terão acesso a informação sobre a qualidade do liquido e dos ambientes onde vivem espécies especificas consumidas na região.
“Pela primeira vez estamos tendo acesso a uma ferramenta de inclusão cientifica. Acredito que na nossa região, somos privilegiados por sermos os primeiros a usar a ferramenta cientifica avançada”, afirmou o biólogo da Sapopema Fábio Sarmento.
Com capacitações, os estudantes das regiões indígenas e ribeirinhas estarão cada vez mais preparados para disseminar o conhecimento sobre ciência prática aos demais moradores. “Depois de sete meses de uso do aplicativo os jovens que participam diretamente têm hoje uma maior facilidade, porque aprenderam muito. Estão aprendendo as atualizações do programa que acabam dialogando com os problemas da comunidade” – reforçou a professora da Ufopa, Socorro Pena.
“Esses jovens ribeirinhos tem a possibilidade de ter o microscópio com uma função além do necessário da comunidade. Eles vão ser o diferencial. Com a inserção dessa nova tecnologia o professor vai ter o processo prático. Antes o professor tinha apenas o livro” – ressalta a arteeducadora do Projeto Saúde e Alegria, Elis lucien.
Projeto Ciência Cidadã Para Amazônia
Gerido pelo Wildlife Conservation Society (WCS) o projeto se propõe a apresentar solução para construir uma rede de organizações e pessoas que gerem informações sobre peixes e águas na escala da bacia, utilizando abordagem participativa e tecnologias inovadoras de baixo custo.
No Pará, as únicas comunidades integrantes da pesquisa são Aracampina e Solimões através da parceria entre Sapopema, Saúde e Alegria e WCS.
Uma das tecnologias utilizadas para o levantamento das informações é o aplicativo Ictio que permite monitorar a captura de peixes e ajudar a compreender os padrões de migração das espécies.
A comunidade cientifica poderá usar a informação gerada para expandir o conhecimento existente sobre a ecologia dos peixes e dos sistemas aquáticos da Amazônia para ações de conservação, por meio da incidência em políticas públicas.