Contagem anual de pirarucus celebra manejo comunitário em lagos de Santarém e Alenquer
/Em 2022, manejadores das comunidades Pixuna do Tapará, Costa do Tapará, Ilha do Carmo e Urucurituba contabilizaram 2.337 pirarucus adultos e bodecos em catorze lagos. Número indica cota de pesca para ano seguinte
“Contar pirarucu não é história de pescador”, sentencia a bióloga da Sapopema que assessora as comunidades manejadoras de pirarucu na região do Baixo Amazonas, Poliane Batista. O procedimento realizado todos os anos, serve de parâmetro para os pescadores que atuam como guardiões da espécie na região. Para avaliar se a iniciativa de manejo está sendo bem sucedida, os pescadores promovem a contagem seguindo o método de Castello (2004), onde demonstram sua habilidade de contar quando observam e escutam a boiada do pirarucu no momento em que ele vem à superfície da água realizar a sua respiração aérea. Cada pescador conta quantos pirarucus observou em uma unidade de área durante um intervalo de 20 minutos. Somente pirarucus maiores de 1 metro são contados, sendo classificados em duas categorias: juvenis (bodecos) (1-1,5 m) e adultos (>1,5 m).
Quatro comunidades concluíram em 2022 a contagem dos pirarucus, resultando no número total de indivíduos. Nos dias 6 e 7 de dezembro, na área manejada da comunidade de Costa do Tapará, a contagem aconteceu nos lagos: Laguinho do Campo Grande, Apé, Frio e Espurus. Ainda há na área de pesca da comunidade os lagos Redondo e Aninga, os quais indicam possuir números consideráveis de pirarucus, mas por conta da localização e morfometria desses lagos, não foi viável a realização de contagem. Nos quatro lagos foram contados 1.027 pirarucus, sendo 206 (53 %) bodecos e 122 adultos (47 %). Considerando apenas o número de adultos contados, a indicação de cota de captura é de 146 pirarucus para a pesca de 2023.
No mesmo período, aconteceu a contagem em Pixuna do Tapará nos lagos: Pixuna, Buracão e Ressaca. Nos três lagos foram contados 842 pirarucus, sendo 375 (45 %) bodecos e 467 adultos (55 %). No lago Pixuna foi onde 71% dos peixes foram registrados.
Já na Ilha do Carmo, município de Alenquer, a contagem anual de pirarucu nos lagos: Papucu, Seringal, Preto e Buraco Preto foi realizada em 19 e 20 de dezembro. 137 pirarucus foram identificados, sendo 54 (39 %) bodecos e 83 adultos (61 %).
No dia 25 de outubro a contagem foi realizada na comunidade de Urucurituba nos Lagos da Lontra, Mungubeira e Nova Aurora. Nos três lagos foram contados 331 pirarucus, sendo 206 (63 %) bodecos e 122 adultos (37 %). O início do monitoramento populacional de pirarucu nos lagos Nova Aurora, Mungubeira e Lontra é recente, em 2021 foram realizadas as primeiras contagens. Fazendo um comparativo entre os resultados das contagens de 2021 e 2022, houve um aumento de 39,66 % do número de pirarucus considerando os três lagos. O crescimento mais expressivo foi no lago Mungubeira, com 59,84 % mais pirarucu em 2022 comparado a 2021.
Além da contagem, obedecer à legislação do período do defeso e o tamanho mínimo de captura e realizar vigilância nos lagos para evitar práticas de pesca ilegal são ações inerentes ao manejo comunitário.
Algumas comunidades, como as do PAE Tapará, realizam a conservação há mais de duas décadas. Com o apoio da Sapopema e seus parceiros, como a TNC, tem fortalecido a experiência, e ampliado para comunidades que iniciaram os procedimentos recentemente.
As contagens apontam o resultado do esforço empenhado e ao mesmo tempo, premiam as comunidades envolvidas. Em 2022, graças à dedicação dos manejadores, pescadores de Santa Maria e Costa do Tapará comercializam duas toneladas de pirarucu direto ao consumidor na III Feira do Pirarucu de Manejo do Pará em Santarém.
“Hoje a gente vê que valeu a pena o nosso esforço, de vigiar os lagos a noite, pegar temporal, é uma gratificação. A população abraçou e hoje está dando resultado”, considerou o pescador de Costa do Tapará, Rionaldo Santos.