Estudantes e professores de São Luiz do Tapajós recebem devolutiva de dados do ictio

Região intensamente ameaçada por construções de hidrelétricas e ferrovias, têm na pesca a principal fonte de renda. Obras devem impactar atividade;

Na última terça-feira (23), a equipe do ictio na região do Tapajós, Mopebam, Sapopema e Saúde e Alegria, visitou a escola São Luiz Gonzaga na comunidade de São Luiz do Tapajós, distante 280 quilômetros de Santarém. A atividade integrante do projeto de uso do aplicativo para o monitoramento de espécies de peixe, faz parte de uma metodologia inspirada na proposta pedagógica de  Paulo Freire, na qual se valoriza os saberes tradicionais na formação dos participantes.

São Luiz do Tapajós possui em torno de 200 famílias que sobrevivem em sua maioria da pesca de subsistência e para comercialização. Além dessa comunidade, moradores da Vila Rayol, Periquito, Jesus te ama, Vila Braga, Maloquinha, Jacundá, Igarapé Preto tem a pesca como atividade mais importante.  

Famílias de São Luiz do Tapajós tratando peixe na margem do Rio. Fotos: Samela Bonfim.

As comunidades não têm abastecimento de água, usam o líquido do rio para o consumo e tarefas domésticas. Em São Luiz há apenas um microssistema que fornece água para beber. Com infraestrutura precária, tarifa de energia alta e sem acesso à serviços básicos de atendimento à saúde, a principal preocupação é com o futuro a partir da instalação dos chamados empreendimentos.

“Um ponto forte da conversa com professores, lideranças da comunidade e alunos é que nessa comunidade há previsão de instalação de cinco usinas hidrelétricas. E um sentimento que nós tivemos é que a comunidade é contra essa construção porque um dos impactos negativos que eles visualizam é na pesca” - contou a professora da Ufopa e coordenadora do projeto, Socorro Pena.

Professores e estudantes em capacitação prática para uso do aplicativo ictio.

Durante a ação, foram realizadas atividades de orientação técnica para o uso do aplicativo e apresentação dos dados para os alunos e profissionais da educação das escolas. Nos três meses, os estudantes da comunidade registraram 20 listas de pesca, 159 peixes e mais de 27 quilos de pescado. As espécies mais registradas em São Luiz do Tapajós no período foram: Jaraqui, pacu manteiga, cachara, tambaqui, matrinxâ, Aracu, cujuba, cachorro, piabanha, bitinho.

A dinâmica de devolução a cada três meses é importante para socializar resultados parciais da pesquisa e promover debates socioambientais sobre a dinâmica da pesca nos territórios pesqueiros. “Foi muito importante a devolução das informações que a escola São Luiz do Tapajós está fazendo o monitoramento de peixes através do app ictio. Nesses resultados foi possível identificar uma variedade de espécies de peixes coletados. Essa devolutiva também nos leva a fazer uma conversa com a comunidade sobre os problemas que eles enfrentam atualmente. É uma comunidade estratégica, central, com desafios mas com um forte nível de debate. Esse momento é muito importante para a gente refletir” - destacou Pena.

Para os professores, ter acesso aos dados das coletas é fundamental para acompanhar a dinâmica da pesca na região e produzir conhecimento e ciência na escola:

"Foi bastante relevante para os alunos pesquisadores e para nós pesquisadores que fazemos parte dessa jornada" professor, Marcelo Macedo.

“Cooperou muito com os nossos alunos para saber como estão sendo aproveitados esses peixes, qual quantidade, perigo de extinção. Eram nossas dúvidas” - professor, Alex Almeida.

O Projeto Ciência Cidadã para a Amazônia é uma rede de organizações que colaboram para empoderar cidadãos e gerar conhecimento sobre os peixes e ecossistemas aquáticos da Bacia Amazônica: o maior sistema de água doce do mundo. Oferece uma oportunidade para geração de informações sobre peixes e águas na escala amazônica e para envolver os cidadãos como atores informados e capacitados para o manejo sustentável da pesca e a conservação das zonas úmidas amazônicas.

Na região do Tapajós e Amazonas, é implementado pela Sapopema nas comunidades de várzea e pelo Mopebam nas comunidades do Tapajós, com parceria da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), Projeto Saúde e Alegria, Semed e apoio da WCS e TNC.