Santa Maria do Tapará comemora duas décadas de monitoramento populacional de pirarucus com contagem anual 

Comunidade foi uma das primeiras a adotar estratégia de conservação da espécie na região. Em vinte anos, aumento do estoque foi de 362%;

Em mais um ano de manejo do pirarucu, Santa Maria do Tapará, comunidade integrante do Projeto de Assentamento Agroextrativista Tapará, que possui 66 famílias e 51 pescadores, comemora os resultados da conservação do maior peixe de escama de água doce do mundo. Santa Maria e Ilha de São Miguel foram as pioneiras no desenvolvimento do manejo na região, com ações direcionadas para conservação do pirarucu desde 2000.

Nesta semana, (13/12) pescadores de Santa Maria do Tapará contabilizaram mais de novecentos pirarucus no lago Purus da comunidade, o que demonstrou um aumento de 131% no estoque de pirarucu no lago comparado ao ano anterior. Do total de pirarucus contados em 2021, 47% eram peixes juvenis e 53 % pirarucus adultos. Segundo a bióloga da Sapopema, que promove assessoria técnica à comunidade, Poliane Batista, o crescimento da população de pirarucu na área manejada da comunidade de Santa Maria foi de 362%  entre os anos 2000 e 2020.

Para o Coordenador do Núcleo de Base de Santa Tapará, Odirlei Almeida, apesar dos indicadores serem animadores e evidenciarem o aumento do estoque, a comunidade decidiu em ATA de reunião comunitária a suspensão do uso da malhadeira nos próximos dois anos para potencializar as ações de conservação. “Isso é resultado do trabalho na comunidade, da conscientização dos nossos pescadores, e da importância de manejar mais e usufruir do trabalho que a gente tem. Esse ano que vem a gente vai fechar dois anos para aumentar mais. Eu creio que vai dar muito mais do que o que a gente contou. É muito importante a gente preservar e conservar nossos lagos para no futuro a gente ter bastante” - conta. 

Contagem de pirarucu é realizadas por manejadores em Santa Maria do Tapará há vinte anos. Fotos: Poliane Batista/Sapopema.

Os procedimentos utilizados nas contagens são baseados na capacidade e experiência do pescador em contabilizar pirarucus quando observam e escutam sua emersão, chamada por eles de boiada, no momento em que a espécie vem à superfície da água realizar a respiração aérea. Cada pescador conta quantos pirarucus observou em uma unidade pré-determinada de área, durante um intervalo de 20 minutos. Somente pirarucus maiores de 1 metro são contabilizados, sendo classificados em duas categorias: juvenis, chamados localmente de bodecos e que medem entre 1 e 1,5 m, e adultos, de tamanho superior a 1,5 m. Os pescadores devem realizar as contagens de forma silenciosa para assegurar a acurácia do método e evitar que o comportamento do pirarucu seja alterado por interferências externas.

O método de contagem de pirarucus foi adaptado a partir do conhecimento tradicional de pescadores de Mamirauá. Mas só foi possível porque o pirarucu possui respiração aérea obrigatória, então quando o peixe vem à superfície para respirar, pescadores experientes e treinados são capazes de quantificar o número de indivíduos existentes em um determinado corpo d’água.

A Sapopema promove assessoria técnica para o manejo do pirarucu em cinco comunidades do PAE Tapará: Santa Maria, Costa do Tapará, Pixuna, Tapará Grande e Tapará Miri. Segundo Batista, em 2020, os monitoramentos populacionais do pirarucu realizados nas comunidades de Santa Maria, Pixuna, Tapará Miri, Costa do Tapará e Ilha do Carmo demonstraram um total de 4.660 pirarucus (2.534 juvenis e 2.126 adultos) em 16 lagos.