Intercâmbio de Ciência Cidadã marca troca de experiências entre escolas de Rondônia, Amazonas, Pará e Peru
/Encontro foi realizado no período de 12 a 15 de maio na Vila de Alter do Chão em Santarém. Iniciativa organizada pela Sapopema e Mopebam, com parceria do Projeto Saúde e Alegria e Semed e apoio da WCS e TNC, contou com a participação de doze escolas de diferentes territórios do país e representação do Peru;
O intercâmbio de Ciência Cidadã das Escolas promovido durante quatro dias em Alter do Chão, reuniu mais de cento e sessenta participantes em um encontro de troca de experiências entre os diferentes atores que atuam na rede Ciência Cidadã. Durante a programação foram feitos debates e reflexões sobre princípios metodológicos, legislação da Educação Ambiental, noite cultural e visita à aldeia Solimões, na Resex Tapajós Arapiuns, integrante do projeto desde 2018.
Fazem parte do projeto implementado no Tapajós e Baixo Amazonas estudantes das escolas das comunidades Pixuna, Santa Maria, Tapará Miri, Tapará Grande, Costa do Tapará, Aracampina, São Luiz do Tapajós, Solimões, Cametá, Parauá e Suruacá. Na sexta-feira (13), se juntaram aos representantes do Peru e Estados Rondônia e Amazonas, para apresentar os resultados do monitoramento de peixes através do aplicativo ictio do período de agosto/2021 a março/2022.
Cada grupo sistematizou informação de um banner com o resultado das coletas por comunidade, demonstrando o número de registros, espécies mais capturadas e quantidades. Os alunos puderam acompanhar as diferenças de cada região e as dinâmicas de pesca. Para a estudante Júlia Vitória, da comunidade Tapará Miri de Santarém, o momento foi marcado por trocas: “A gente se depara com uma realidade totalmente diferente, principalmente em relação à captura do peixe. Tá sendo muito bom ter esse contato, com diferentes culturas. No Tapajós os pescadores usam a flecha para pescar e não utilizam malhadeiras, e lá nós utilizamos muito mais as malhadeiras” - conta.
No sábado (14), os participantes do intercâmbio, visitaram a aldeia Solimões, onde prestigiaram o ritual indígena com apresentações culturais, visita guiada à aldeia e sistematização da experiência em ciência cidadã. O encontro foi resultado de uma grande organização comunitária liderada pela diretora Aurenice Fernandes, com pixirum para limpeza da aldeia e recepção dos convidados. Solimões participa da rede desde 2018. “Essa segunda fase se iniciou no ano passado. Tentamos manter o mesmo ritmo da experiência piloto. É um prazer muito grande receber essa grande quantidade de pessoas. Para recebermos teve uma grande mobilização a aldeia, dos moradores” - disse o professor da escola Nossa Senhora das Graças da aldeia Solimões, Dailon Alves.
Uso do app ictio
O Projeto Ciência Cidadã para a Amazônia é uma rede de organizações que colaboram para empoderar cidadãos e gerar conhecimento sobre os peixes e ecossistemas aquáticos da Bacia Amazônica: o maior sistema de água doce do mundo. Oferece uma oportunidade para geração de informações sobre peixes e águas na escala amazônica e para envolver os cidadãos como atores informados e capacitados para o manejo sustentável da pesca e a conservação das zonas úmidas amazônicas.
Os dados gerados pelos usuários são devolvidos e compartilhados para os demais moradores das comunidades em visitas trimestrais. Para um dos coordenadores do Mopebam, Alexandre Pimentel, o aplicativo supre uma demanda importante de geração de informações sobre as práticas de pesca: “É muito gratificante ver esse momento. Nós temos uma carência muito grande de estatística pesqueira. A pesca na nossa região não tem esses dados concretos. Esse projeto vem através desses alunos, plantando uma semente, para que no futuro esse conhecimento seja em favor do meio ambiente”.
O encontro fortaleceu o princípio de ciência cidadã, possibilitando a identificação da metodologia adotada e sistematizando as experiências pedagógicas obtidas através da ciência cidadã nas Escolas da Amazônia. A Ecoporé tem implementado o projeto para uso do aplicativo ictio junto às escolas da bacia do Rio Madeira. “Nós já estamos trabalhando com os alunos da região para que eles possam reconhecer a importância da pesca na comunidade e iniciar o monitoramento. A ideia é que eles possam reconhecer a importância da pesca na comunidade e iniciar o monitoramento. A ideia é que eles possam entender as modificações que estão ocorrendo na pesca e avaliar com seus pais e pescadores na comunidade” - ressaltou a Carolina Doria, professora da Universidade Federal de Rondônia e membro da Ecoporé.
A professora da comunidade de São Carlos do Baixo Rio Madeira, Berenice Simão, evidenciou a riqueza do encontro: “Através da troca de experiências, essa parte prática, da convivência dos saberes, da visita, foi uma aprendizagem única”.
A diferença dos monitoramentos chamou a atenção da jovem pesquisadora de Porto Velho, Raiane Ribeiro: “A nossa comunidade o peixe que a gente mais consome lá é a jatuarana e o tambaqui. Aqui em Santarém eu percebi que tem uma diferença muito grande de uma comunidade pra outra. Como eles fazem a pesquisa diferente da nossa”.
No Amazonas, o Instituto Mamirauá também tem estimulado o uso do aplicativo para registrar informações sobre pesca. Para auxiliar na proposta de educação ambiental, desenvolveu jogos e revistas sobre a temática, ressaltou a bióloga e pesquisadora Bianca Darski: "A gente está muito feliz com as trocas que foram incríveis. A gente trabalha com quatro grupos na região: pescadores, escolas, ecoturismo e comunidades. Está tendo uma escassez de pesca e os peixes estão cada vez menores. A proposta que a gente leva é que a gente consiga ser parte da solução de um problema que é generalizado, com um método de trabalho juntando todos os atores que estão envolvidos na pesca, alimentação e economia. Desenvolveu a edição 85 da revista Macaqueiro Kids - uma edição infanto juvenil que o Instituto Mamirauá desenvolve na região do Médio Solimões. Essa revista aborda os bagres migratórios e tem um jogo em relação a migração da dourada, os 11.600 km que ela realiza de migração. Cada parte do jogo tem desafios e recompensas” - explicou.
Próximas fases
A iniciativa tem sido bem avaliada pela coordenação que projeta a incorporação da metodologia como política pública, ampliando a inovação para novas escolas ribeirinhas, explicou a coordenadora do projeto e professora da Ufopa, Socorro Pena: “A nossa expectativa é que essa experiência seja incorporada como uma política pública. Que os governos possam entender que esse é um instrumento importante de educação ambiental e ele vai nos proporcionar, jovens e adultos mais conscientes de seu papel, principalmente nos seus territórios”.
Segundo o Chefe do núcleo de educação para região de rios da Semed, Nilton Araújo, a secretaria está trabalhando para inserir a aplicação como eixo da educação ambiental nas escolas municipais: “é muito importante falar sobre a importância do projeto para a questão social, cultural e científica para as crianças que estudam nas escolas. A partir de agora a Semed vai poder continuar o projeto independente da verba vinda ou não”.
Para Loyola Escamilo da WCS Perú, é necessário entender que o processo de envolvimento e educação ambiental dos participantes é muito mais importante que número de registros: "Eu estou muito contente e impressionada com a quantidade de comunidades envolvidas no uso do aplicativo entre estudantes e professores. Eu pessoalmente estou encantada em conhecer o Tapajós e participar do intercâmbio, conhecer os jovens das comunidades. Foi muito positivo o encontro".
O Projeto Saúde e Alegria, membro da Rede de Ciência Cidadã, reforçou a relevância do projeto e ressaltou a importância do conhecimento tradicional da população ribeirinha. “O jovem rural ribeirinho tem uma capacidade porque ele conhece o que é importante para a pesca, as estações. Quando a Sapopema nos apresenta a proposta de aprendermos mais sobre a metodologia da ciência cidadã, a gente se encantou” - disse o coordenador do PSA, Paulo Lima.
Fotos: Samela Bonfim e Elizabete Matos