"A gente pescava por pescar. Não tinha controle" - lamenta pescador sobre falta de monitoramento do pescado
/Reflexão é uma das dezenas feitas por pescadores que atuam na comunidade Aracampina e Aldeia Solimões. Nesta segunda eles testaram o Ictio na feira do pescado, em Santarém/PA. Aplicativo irá reunir informações sobre a pesca na região
Em 48 anos de pesca, Juscelino Assunção pescador e morador da aldeia Solimões, localizada na região do Rio Tapajós mostrou esperança para conservação dos lagos através de sistema de manejo. "Esse aplicativo é muito importante porque antes a gente pescava por pescar. Não tinha controle. Hoje a gente percebe que as espécies estão desaparecendo por conta da pesca predatória que afugenta os peixes. Antes a gente puxava até sessenta tucunarés. hoje a gente puxa dois em uma pescaria" - lamenta.
Na oficina ele e o filho, Gabriel Guimarães de 15 anos, usaram a ferramenta para se adequar ao instrumento que será usado durante as pescarias.
Após a apresentação teórica, os pais e filhos foram para a Feira do Pescado testar o Ictio na prática. Eles registraram os peixes e adicionaram as informações como farão na prática, conforme explica a professora da Ufopa e coordenadora do projeto Socorro Pena: "eles vão monitorar tempo de pesca, quantidade e monitorar as espécies que não estão entre as vinte indicadas no aplicativo. Qual é a principal vantagem de testar o aplicativo? Nós não temos estatística pesqueira. Não temos um sistema de monitoramento da pesca. Então ele pode ser uma inovação para utilizar essa tecnologia" - explica.
Com as informações será possível criar um mecanismo coletivo para aumentar o estoque pesqueiro. Mariane de Sousa de 14 anos pesca com o pai desde 3 anos de idade. Ela disse que já notou a escassez das espécies e por isso está animada com projeto que propõe a eles serem 'cientistas cidadãos': "Antes era melhor pra pescar, porque a gente pegava bastante peixe. Agora tá escasso. A gente sai 10 horas e volta as seis com bem pouquinho peixe" - diz.
A inovação conta com a experiência dos moradores das comunidades contempladas. A direção das escolas recebe um computador e quatro aparelhos celulares para usar no monitoramento. Até então as informações eram anotadas por pesquisadores da área. A partir de agora a tecnologia será aliada no processo de monitoramento pesqueiro que se unirá as informações de outros países.
No encontro os participantes descobriram como funciona e quais as regras para uso do recurso. A produção do conhecimento será por conta dos pesquisadores que conhecem as peculiaridades dos lagos e rios da região e apontarão indicadores de avaliação para mudanças.
O biólogo da Sapopema, Fábio Sarmento explica que: "o aplicativo permite localizar as áreas de pesca. As áreas aonde o peixe é capturado dentro das comunidade. É um projeto enorme que faz parte de um conglomerado de 40 instituições" - finaliza.
Sobre o projeto
O projeto faz parte das ações do Projeto Ciência Cidadã para a Amazônia que conta com a integração de professores e alunos para monitorar a diversidade de peixes capturados pelos pescadores das comunidades. O monitoramento acontece também nos países: Peru, Colombia, Bolivia e Brasil. O projeto é fruto de parceria entre Sapopema, Ufopa, Saúde e Alegria e WCS.
| Por Ascom Sapopema / Samela Bonfim.