Aumento de casos da Covid-19 na várzea preocupa Colônia de Pescadores e entidades de pesquisa

Dados da Secretaria de Saúde do Estado divulgados em 14 de junho revelaram que a região de rios possui registro de 222 casos confirmados do novo coronavírus e 7 mortes;

Balanço da Sespa indica que nas comunidades ribeirinhas houve registro de 4 óbitos de homens e 3 mulheres no período de primeiro de março à catorze de junho. O relatório aponta que 81 mulheres e 141 homens foram infectados pela doença. 

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Em ações pontuais realizadas pela Prefeitura de Santarém, novos casos estão sendo confirmados. A ‘Ação Síndrome Gripal’ da Semsa realizada nas comunidades de várzea Arapixuna, Curuai e Vila Socorro no período de 30 e 31 de maio atestou que dos 124 testados, 97 positivaram para a doença e apenas 27 pacientes testaram negativo para covid-19.

Já durante uma ação itinerante nos rios realizada em 13 de junho nas comunidades Piracaoera de Cima e Boca de Cima do Aritapera, 15 ribeirinhos testaram positivo. Em Boca de Cima do Aritapera dos dez testados, quatro foram positivos. Em Piracaoera de Cima foram feitos catorze testes, atestando positivos onze pacientes.

Os números preocupantes servem de alerta para as autoridades de saúde e revelam que o vírus está circulando nas comunidades isoladas da região de várzea. O coordenador do Conselho Regional de pesca do Lago Grande, Manuel Valdinor Branches, explicou que no último mês os números aumentaram consideravelmente: “A gente tem observado que nas famílias assim que uma pessoa melhora, a outra pessoa já começa a sentir o problema gripal. Tem aumentado o número e ainda não diminuiu. Já houve um trabalho no sentido de fazer isolamento, mas ultimamente tem ficado a desejar. Depois que os decretos foram mudados, muita gente aqui no interior entende que a liberação é total, os bares voltam a funcionar, a aglomeração continua”.

A maior parte dos moradores da várzea sobrevive da pesca e costuma ir à cidade para comercializar os peixes. Entretanto em comunidades como São José a pesca artesanal para comercialização foi suspensa, explicou a coordenadora do núcleo São José da Região do Arapixuna, Cristina Santos: “a ordem da nossa entidade que a gente não pode fazer essa pesca porque a gente não pode vir a Santarém por causa do contágio. Nossa pesca é só pra subsistência”. Na comunidade há três casos confirmados e uma pessoa sendo monitorada, segundo a coordenadora.

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Na comunidade Moaca também integrante da região do Arapixuna a pesca está mantida, contou o coordenador do núcleo de base, João Ezito Miranda: “a gente leva pra feira do pescado e lá compram, mas não é como era normalmente. Diminuiu muito o fluxo de comprador”.

Um levantamento da Sapopema e Colônia de Pescadores Z-20 tem buscado conversar com os pescadores para entender a realidade de cada comunidade, as dificuldades, os casos suspeitos, como (e se) estão praticando a pesca no período de pandemia. Segundo a professora da Ufopa, Socorro Pena, através das conversas é possível identificar que “não houve uma ação preventiva nas comunidades da área rural, principalmente de várzea. De acordo com os depoimentos que estamos ouvindo a tendência é que com o verão isso pode agravar. Além do mais não teve ação de prevenção e não tem de como ajudar essas famílias. Nós estamos observado que com essa abertura o fluxo de transporte no lago grande ficou praticamente normal. Isso é muito sério. Agora tem que ter um esforço entre as instituições, a sociedade civil, os três níveis de governo para ter uma ação mais imediata e mais efetiva. Nós temos grandes desafios. Identificamos que as unidades básicas de saúde não tem uma resposta imediata, porque tem limitações nas ambulanchas, quando precisam vir para a cidade precisam pagar um transporte pra chegar e nem sempre tem o atendimento”- analisa.

Ação de prevenção na várzea

Preocupada com a rápida ação do vírus nas comunidades, a Sapopema iniciou em maio a entrega de duas mil máscaras laváveis para os moradores. Elas foram confeccionadas através da parceria entre a Sapopema, Colônia de Pescadores Z-20 e o projeto sóciocultural Samaúma, entidade que atua no atendimento à terceira idade com apoio da Norad e Tinker.

As máscaras beneficiam os moradores de doze comunidades dos PAEs: Ituqui, Aritapera, Tapará, e Urucurituba. Nessa mesma lógica de valorizar as comunidades de várzea que praticam o manejo, um projeto de acesso à água na região ribeirinha em parceria com o Saúde e Alegria e Colônia de Pescadores Z-20 possibilitou agua potável às comunidades Tapará Miri, Santa Maria, Costa de Tapara, Tapará Grande, Correio do Tapará e Igarapé do Costa .

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“Essas comunidades que receberam as máscaras são aquelas que participam das atividades de ordenamento dos recursos de pesca na região em parceria e assistência técnica da Sapopema e o trabalho de organização da Colônia de Pescadores Z-20 aqui em Santarém. Essa é uma ação que faz parte do esforço integrado dessas instituições parceiras visando contribuir com essas comunidades para que elas possam proteger a saúde nesse contexto gravíssimo da pandemia. Ao mesmo tempo que também é um trabalho que ajuda a fortalecer as ações que essas comunidades desenvolvem para a conservação dos recursos pesqueiros na região por meio de seus acordos de pesca e uso sustentável desses recursos” – explicou o coordenador da Sapopema, Antônio José Bentes.

Campanha de prevenção

Outra linha de frente da Sapopema é a conscientização ao público ribeirinho através de linguagem clara nas redes sociais. Nesta segunda semana de junho está sendo lançada uma campanha de prevenção por meio de cards para Whatsapp, Facebook e Instagram com intuito de prevenir novos casos de covid19 na região. De maneira lúdica, o objetivo das artes gráficas é conscientizar sobre os cuidados necessários aos ribeirinhos para evitar contaminação da doença.

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