Duas toneladas de pirarucu são vendidas na III Feira do pirarucu de manejo em Santarém
/Pescadores de Santa Maria e Costa do Tapará comercializam pirarucu direto ao consumidor no último sábado (12/11), na Praça São Sebastião
“Comprei a ventrecha e a manta. Uma delícia”, comemorou Maria de Lourdes Borges ao garantir mais de três quilos de diferentes cortes do pirarucu. Ela e a amiga fizeram questão de prestigiar o evento e valorizar o esforço dos pescadores que praticam o manejo comunitário do gigante de águas doces. “Valeu a pena, tem peixe pra comer à vontade. Comprei miúdo pra comer com jerimum e maxixe e a ventrecha vou assar pra comer com meu boy”, brinca.
Maria Emília aproveitou a oportunidade para adquirir peixe fresco, de lagos naturais e prestigiar quem se dedica à conservação do pirarucu nas comunidades do PAE Tapará. “É coisa da nossa região e a gente tem que valorizar esses pescadores que pescam de sol a sol”.
Para o farmacêutico Carlos Amorim a feira do pirarucu está marcada na agenda. É a última oportunidade de garantir a espécie antes do período do defeso. “Ano passado teve e sempre que tem, é uma maneira da gente conhecer como funciona. Essa foi a última chance antes da proibição da pesca”.
Antes mesmo da feira iniciar, já havia consumidor aguardando para garantir o produto. O evento estava previsto para iniciar às 7h, mas desde às 5h30 já tinha gente em busca do pirarucu de lagos conservados. Até às 11h30, 820 pessoas passaram pelo espaço. A venda seguiu até 16h, com mais de duas toneladas comercializadas.
Para a Secretária da Associação de Santa Maria, Natalina Almeida, o evento superou as expectativas. Com o lucro da atividade, será possível garantir infraestrutura para toda a comunidade: "Vamos construir um barracão comunitário”, disse. O presidente da associação comunitária, Raimundo Sousa, contou foi um momento importante para fortalecer a iniciativa: “Desde quando começamos a trabalhar com o manejo, nós notamos o aumento da população de pirarucus e de outras espécies. Aqui a gente traz as pessoas pro nosso lado, pra estar protegendo a área de lago onde a gente não pesca, respeitando o período de desova desse peixe”.
A intenção da Feira foi oportunizar meios para escoação do pirarucu produzido na região no próprio município de origem, de forma a gerar renda para as populações tradicionais e promover o entendimento do esforço que comunitários dedicam para garantir o futuro da espécie. “Hoje a gente vê que valeu a pena o nosso esforço, de vigiar os lagos a noite, pegar temporal, é uma gratificação. A população abraçou e hoje está dando resultado”, considerou o pescador de Costa do Tapará, Rionaldo Santos.
O evento é fruto da realização dos pescadores e pescadoras das referidas comunidades com a parceria da Sapopema, Sebrae e Colônia de Pescadores Z-20, Semap, Ufopa, Sedap, IFPA e apoio da TNC. “A Feira tem um símbolo especial que é oportunizar para a população acesso a esse produto de conservação e ao mesmo tempo coroa esse esforço que a comunidade faz, para fortalecer a comunidade”, destacou Antônio José Bentes, da coordenação da Sapopema.
Ao longo do ano, pescadores participaram de capacitações para o manejo comunitário, assessoradas pela Sapopema, e de formações para manipulação adequada, cursos de atendimento ao consumidor e de gestão dos negócios, explicou o gerente regional do Sebrae, Michel Martins: “Buscamos capacitar esses pescadores para serem empreendedores da pesca, com gestão especializada e com isso poder gerar esse contato com o cliente final, com atendimento qualificado, com utilização de EPIs para adequada higiene e manipulação para que a gente possa entregar um bom produto”.
Na terceira edição da feira, que se tornou um momento importante para aproximar o manejador da sociedade, os consumidores puderam conhecer mais sobre a prática do manejo comunitário e garantir peixe fresco, de ambiente natural, com a certeza de que o produto tem origem sustentável.
“Uma união de forças no instituto de dar suporte para os ribeirinhos da várzea que praticam o manejo que é muito importante. Foi um momento de festa uma vez que eles passaram a ser os próprios comercializadores dos seus produtos, agregando valor a esse trabalho bonito que eles desenvolvem”, concluiu o secretário de Agricultura e Pesca, Bruno Costa.