Workshop de técnicas audiovisuais forma jovens para defesa do território 

Encontro realizado na última quarta-feira (03) em Santarém, reuniu jovens das regiões de várzea, Resex Tapajós Arapiuns, Lago Grande e Planalto 

Estamos lançando 152 milhões de toneladas de poluição que causa o aquecimento global na fina casca de nossa atmosfera a cada 24 horas – como se fosse um esgoto aberto. Se continuarmos no ritmo atual, o aumento da temperatura vai mudar o clima do planeta. Em comunidades ribeirinhas da Amazônia, as mudanças já são percebidas no dia a dia. “Antes existia uma grande concentração de árvores frutíferas e agora com a erosão do solo e desmatamento que está acontecendo, estão desaparecendo. Meu pai é pescador. Quando eu era pequeno ele pegava tambaqui de dez, vinte quilos, e hoje nem pra consumir, nem pra comercializar” – relatou Gabriel Bernardes da comunidade Tapará Miri, região de várzea.

Mas qual a relação entre as mudanças climáticas e a formação dos jovens das comunidades? Por que aprender técnicas para captura e edição de vídeos é importante para os territórios? Essas foram algumas questões levantadas durante o encontro que enfatizou a defesa do território através das lentes. 

Os jovens participantes da formação, são filhos de pescadores e estão inseridos no contexto de defesa do território, desenvolvendo ações que contribuam para a diminuição dos impactos das mudanças climáticas. Uma dessas iniciativas é o manejo do pirarucu que conserva a espécie e colabora para a multiplicação de outros estoques pesqueiros. 

A intenção da formação é possibilitar que os jovens despertem o interesse pelo uso das tecnologias digitais como recursos auxiliares na divulgação das iniciativas positivas e denúncias de situações que afetam o cotidiano nas comunidades, a exemplo da exploração de madeira, invasão dos lagos de pesca, instalação de grandes empreendimentos que ameaçam o meio ambiente, etc. 

Participaram da formação dois jovens por comunidade: Pixuna do Tapará, Santa Maria, Tapará Miri, Tapará Grande, Costa do Tapará, Aracampina, aldeia Solimões, Suruacá, Guardiões do Bem Viver - PAE Lago Grande e Mojuí dos Campos. 

O workshop abordou conteúdos práticos sobre definição da pauta, objetivo da captura, formato, estrutura, elementos e técnicas para edição. “Trabalhamos com técnicas básicas para que eles saibam utilizar os recursos disponíveis no próprio aparelho celular, visando potencializar as coletas do material e edições feitas no aplicativo que disponibilizamos” - explicou a palestrante, Samela Bonfim. 

Após orientações e testes, alunos foram divididos em duplas e seguiram para a feira do pescado para realizar a gravação de imagens, sonoras e passagens sobre temáticas específicas definidas por eles. “Eu precisava de uma formação dessa, que eu ainda não tinha tido. Eu estou muito feliz de estar hoje participando dessa formação que eu quero aprender o que é relacionado à comunicação. Nós estamos aqui para mostrar o que tem na nossa comunidade de bom” - disse o jovem Gean Silva do coletivo Guardiões do Bem Viver.

No encontro, um vídeo piloto e inédito gravado por alunos de Pixuna do Tapará e Tapará Miri, ambas comunidades manejadoras de pirarucu, foi exibido. A reportagem foi produzida pelos próprios com orientações da Sapopema [assista abaixo]. “É um conhecimento que a gente vai levar para a comunidade e para os demais alunos e para a vida. Estar aqui hoje é muito importante porque desenvolve pessoas críticas” - conta a professora Danielly Mafra de Pixuna do Tapará. 

A aldeia Solimões da Resex Tapajós Arapiuns que integra o projeto Ciência Cidadã para a Amazônia desde 2018, participou do encontro e reforçou a necessidade de usar as tecnologias digitais a favor da defesa dos territórios: “Eu estou aprendendo muitas coisas que vou poder levar para o meu povo, para ajudar a informar” - disse Samela Costa. O professor Dailon Alves, também da aldeia Solimões, enfatizou que o conhecimento será compartilhado com os demais jovens da aldeia: “é uma ferramenta muito importante para o nosso território, que temos um envolvimento de luta e fortalecer o nosso território”. 

A comunidade Aracampina, localizada no PAE Ituqui, que também integra o projeto desde 2018, ressaltou a importância das capacitações para formação de novas lideranças: “Eu participei pela primeira vez do projeto piloto em 2018 e o que eu aprendi lá, hoje eu posso repassar pra eles. E hoje estou fazendo faculdade, e tudo que eu aprendi lá, eu tento repassar para os alunos. Eu gosto de redes sociais e hoje jovem que não tem rede social é como se não estivesse no mundo. E tudo o que estou aprendendo aqui vou repassar para as comunidades. Foi bem legal a oportunidade de ir lá na feira e gravar com as pessoas” - disse Jaqueline Costa, Aracampina. 

Cada dupla iniciou edição dos vídeos coletados e realizará a finalização da edição no App. As reportagens serão publicadas a partir do dia 10/08 e disponibilizadas nas redes da Sapopema. “Esse projeto está sendo maravilhoso. Nós somos ribeirinhos e tem muita coisa que a gente não sabe. E aqui nós estamos aprendendo muitas coisas que a gente não sabe. Esse projeto é uma oportunidade de aprofundar, para compartilhar com outras pessoas” - disse Moisés Carvalho de Tapará Grande.

O evento foi realizado pela Sapopema e Projeto Agentes com apoio do Projeto Vozes da Ação Climática (VAC) - coalizão Vozes do Tapajós Combatendo as Mudanças Climáticas coordenado pelo Projeto Saúde e Alegria, Projeto Águas do Tapajós (TNC)w e parceria da Colônia de Pescadores Z-20, Mopebam, Semed, Ufopa.

A gente juntou as atividades com essa discussão em especial, troca de experiências de sustentabilidade nas comunidades, para além do projeto na escola e do Ciência Cidadã” - Socorro Pena, professora da Ufopa. 

Pra gente é uma inspiração ver os jovens que podem tomar a frente para transformar um mundo melhor. Vocês estão aqui e a gente acha que é a geração que pode fazer as coisas melhorarem” - Fábio Castro, Projeto Agentes. 

Fotos: Marcos Oliveira/Sapopema, Elizabete Matos/Mopebam e Socorro Pena/Ufopa.