Curso orienta sobre o uso de tecnologias digitais no monitoramento de territórios
/Representantes de comunidades, aldeias e quilombos de Santarém, Belterra e Jacareacanga discutiram riscos, segurança e conteúdos no ambiente digital
A capacitação foi realizada entre os dias 4 e 8 de novembro na Fazenda da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), em Santarém. O Curso de Extensão em Monitoramento Territorial e Tecnologias Digitais foi destinado a 30 participantes representantes de organizações comunitárias das bacias do Rio Tapajós e Baixo Amazonas, por meio do projeto de extensão Juventudes Vivas Tecendo Saberes (JUNTES). A iniciativa é uma parceria da UFOPA, Fundação Getúlio Vargas (FGV), SAPOPEMA e Projeto Saúde e Alegria (PSA).
"Este curso reúne lideranças de organizações de base das bacias do Tapajós e do Amazonas, que estão compartilhando suas experiências de monitoramento territorial independente. A intenção do curso é fortalecer essas iniciativas já existentes nos territórios, com a inclusão de tecnologias digitais para melhorar e qualificar o monitoramento dos recursos naturais, que essas comunidades já desenvolvem, e seus modos de vida", explicou a Coordenadora da SAPOPEMA, Wandicleia Lopes.
Alguns participantes já realizam os monitoramentos dos lagos, rios e florestas. Eles representam as comunidades e territórios: Tiningú, Pae Tapará, Santa Maria do Tapará, Aldeia Muruari, Vista Alegre - Resex, Belterra, Cachoeira do Moró, Cobra Grande, Pae Lago Grande, Saracura, Pae Ituqui, Aldeia Esperança, Surucuá, São Pedro - Resex T. Arapiuns, Maripá, Alter-do-Chão, Santa Rita - Juruti e Jacareacanga.
O monitoramento, apesar de muito importante, implica em exposição a riscos e confrontos. Como relata a Liderança da comunidade Ipixuna do Tapará, João Pedro da Rocha: "A gente tem o monitoramento de pesca, e fazemos a fiscalização. Então, a gente sai pra fiscalização à noite, ao longo do dia. A gente sai de canoa, bajara, é o monitoramento que usamos. Às vezes a gente tem tido confronto com pessoas que vão para fraudar no lago, pegando peixe irregular. É perigoso, porque não sabemos o que encontrar. Mas quando aprendemos um monitoramento diferenciado é muito importante.
"Esse encontro tem a proposta de construir um espaço de troca entre organizações, representantes, lideranças de diferentes partes do Tapajós. A ideia é que as pessoas desenvolvam o monitoramento territorial aliado às tecnologias digitais. Apresentamos uma série de ferramentas que são utilizadas hoje para o monitoramento territorial, para registros, construções de mapas, e como elementos da vida dos povos. Também ameaças, focos de calor, garimpo, e pesca predatória. A ideia é que a tecnologia possa servir como ferramenta importante para a proteção territorial", destacou o pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Erick Macedo.
O objetivo é capacitar os participantes para o uso de aplicativos e outras ferramentas digitais para ações de monitoramento territorial, orientar sobre segurança digital e possibilidades de incidência política para a proteção do território. A expectativa é que o conteúdo seja repassado às comunidades para o desenvolvimento de estratégias com a utilização dessas tecnologias.
"A experiência é muito importante, e aprimora as nossas práticas do dia a dia. Nós já temos um tempo discutindo e fazendo ações territorial na Terra Indígena (TI) Maró, desde 2007, com a auto demarcação. E agora com as ferramentas tecnológicas e acesso a internet, isso só aprimora, só contribui para a produção de dados, de material de divulgação. A gente vai disseminar as informações da formação no território, porque quanto mais informações e formação é importante pra gente aprimorar as práticas de monitoramento territorial", disse o morador da TI Maró, Poró Borari.
O curso abordou temáticas importantes sobre os territórios e o uso da internet como possibilidade. O conteúdo abordou questões voltadas ao bom uso da Internet e à segurança digital, incluindo riscos e oportunidades ligados ao ambiente digital, uso de aplicativos e outras ferramentas digitais no monitoramento territorial e possibilidades de incidência política para proteção dos territórios. O encontro apresentou fatores ligados à segurança dos dados e possibilidades no ambiente virtual.
"Em um dos módulos, discutimos o uso seguro da internet. Na dinâmica identificamos que furto de dados, vícios e invasão de privacidade, são os maiores riscos apontados pelos participantes. Para diminuir os riscos, utilizam estratégias para o ambiente digital, como usar senhas fortes, não abrir links suspeitos e bloquear perfis desconhecidos", pontuou Samela Bonfim, pesquisadora do projeto.
Ao longo da formação, os participantes receberam informações sobre os direitos dos povos tradicionais e acionamentos de órgãos públicos voltados aos territórios. O intercâmbio entre diferentes comunidades possibilitou aprendizados e conhecimento. Os resultados são observados a partir dos usos de plataformas, aplicativos e redes de monitoramento para a proteção.
"Os nossos territórios estão sofrendo inúmeras ameaças, e as comunidades elas têm sofrido com isso e precisam estar discutindo e se informando a como proteger seus territórios. Para isso, a gente dá um suporte para que eles possam ter a capacidade de proteger o território, a cultura e a forma de viver. É uma articulação que promovemos há alguns anos, e geralmente temos bastante sucesso nos resultados", afirmou o professor da UFOPA, Sandro Leão.