Estudantes de escolas da várzea iniciam monitoramento de migração de peixes com App Ictio 

Comunidades manejadoras de pirarucu: Costa do Tapará, Santa Maria, Tapará Miri, Pixuna do Tapará e Aracampina no PAE Ituqui participam de nova fase do Projeto Ciência Cidadã para a Amazônia;

O primeiro teste para estudantes de escolas ribeirinhas foi em cima de canoas. Com aparelhos celulares androides e aplicativo ictio instalados, jovens de áreas da várzea fizeram os primeiros registros dos peixes capturados. Informações como espécie, peso, valor estimado para comercialização e quantidade foram registradas. 

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O treinamento no monitoramento foi realizado após apresentação do projeto, capacitação sobre a ecologia aquática e a biodiversidade dos peixes e curso sobre uso da ferramenta. Para os estudantes, a dinâmica possibilitou compreender o fluxo de migração dos peixes que viajam quilômetros na bacia Amazônica. 

“A gente está adquirindo novos conhecimentos dos recursos da nossa comunidade. De como obter essas informações, principalmente na nossa comunidade todo mundo pesca mas ninguém registra” - Júlia Vitória, Tapará Miri.

"Nós sentimos uma comunidade privilegiada em integrar o projeto. Eu estou vendo aqui muitos peixes que eu ainda não tinha visto” - Jaqueline Costa, Aracampina.

Com os registros será possível identificar as espécies presentes no contexto das comunidades e contribuir para uma uma estatística de pesca. A experiência contribui significativamente para a rotina escolar por meio da educação ambiental, com ênfase na conservação da biodiversidade, ressalta a coordenadora do projeto em Santarém, a professora da Ufopa, Socorro Pena: "Esse é um programa de educação ambiental onde  crianças e adolescentes aprendem a trocar conhecimentos tradicionais da atividade da pesca com essa atividade tecnológica. É uma experiência onde os estudantes aprendem a fazer ciência".

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O Projeto Ciência Cidadã para a Amazônia está presente no Brasil, Equador, Estados Unidos, Colômbia, França, Peru e Bolívia com uma rede de organizações e pessoas que geram informações sobre peixes e águas na escala da Bacia utilizando uma abordagem participativa e tecnologias inovadoras e de baixo custo. O ictio se apresenta como uma estratégia de registro de observação de peixes na Amazônia. A aplicação e banco de dados sobre peixes migratórios se baseia na colaboração de populações tradicionais, incluindo indígenas, pescadores, manejadores, associações, estudantes, cientistas e professores.

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Na região do Baixo Amazonas em Santarém, Brasil, o App Ictio e o Foldescope foram implementados em 2019 nas comunidades Aracampina e Aldeia Solimões para uso de estudantes das Escolas São Sebastião e Nossa Senhora das Graças, respectivamente, por meio da parceria entre as entidades Sociedade Para Pesquisa e Proteção Para o Meio Ambiente (SAPOPEMA), Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), Projeto Saúde e Alegria e WCS. Se unem à estratégia como novos parceiros o Mopebam e a Secretaria Municipal de Educação/Semed.

Comunidades integrantes do projeto no Pará em 2021.

Comunidades integrantes do projeto no Pará em 2021.

Nesta nova fase, o projeto com uso de tecnologia digital será continuado nas duas e implementado em outras nove comunidades (Costa do Tapará, Santa Maria, Tapará Grande, Tapará Miri e Pixuna do Tapará, Suruacá, Parauá, Cametá (Aveiro) e São Luís (Itaituba). O projeto da Rede Ciência Cidadã da WCS executado pela Sapopema ganhou novos parceiros. O Movimento dos Pescadores do Baixo Amazonas - MOPEBAM, com apoio da TNC, será responsável por executar os trabalhos no Tapajós, em Aveiro e Itaituba.

“Nós vamos implantar esse projeto na região do Tapajós nos municípios de Santarém, Aveiro e Itaituba. Esse projeto é muito importante para a comunidade, para as lideranças, para as escolas que aceitaram o projeto. Essa formação de lideranças é uma formação que quem ganha com isso são as comunidades” - disse Ednaldo Rocha da coordenação do Mopebam.

Apresentação de planejamento pelos estudantes integrantes do projeto.

Apresentação de planejamento pelos estudantes integrantes do projeto.

O aplicativo Ictio foi desenvolvido pelo Laboratório de Ornitologia Cornell em colaboração com a Wildlife Conservation Society. A aplicação e banco de dados foram criados para uso por populações indígenas, pescadores, grupos de manejo, associações e cientistas. Por meio do app, busca-se entender o processo migratório de peixes na bacia amazônica e os fatores ambientais que influenciam essas migrações. Para tanto utiliza-se uma metodologia participativa, onde usuários realizam cadastro após baixar a plataforma na Google Play, podem informar listas de pesca com definição de espécies capturadas, local de pesca, peso e quantidade (ICTIO, 2020). A partir dessas informações, dados são gerados para a plataforma, possibilitando análise coletiva das espécies que passam por quais regiões. Na perspectiva de possibilitar abordagem da ciência cidadã, o projeto busca abordar as lacunas de informação para a conservação na Amazônia, reduzir drasticamente o custo de coleta dessas informações e capacitar os cidadãos como guardiões dos ecossistemas aquáticos.

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“A gente está trazendo uma educação formadora, inclusiva e multidisciplinar. A gente traz o conceito científico e popular e mistura tudo nesse grande movimento em educação popular” - Elis Lucien - arteeducadora do PSA.

“É um projeto que vem somar com as comunidades. Os estudantes passam a conhecer as riquezas ao seu redor, explorar, manusear as ferramentas tecnológicas. Isso é muito gratificante pra comunidade como um todo” - Raimunda Nonata - diretora da Escola Coração de Maria (Santa Maria), Nossa Senhora Aparecida (Pixuna do Tapará) e Dom Pedro I (Tapará Miri).

Escolas receberam aparelhos celulares e notebooks para desenvolvimento das atividades.

Escolas receberam aparelhos celulares e notebooks para desenvolvimento das atividades.

“É com muita satisfação que a gente integra essa parceria. A gente consegue levar essa tecnologia pra essas crianças, pra esse manejo e consegue ver essa riqueza que a várzea tem. O município ganha muito com essa parceria” - Ana Raquel, técnica da Semed.

"É um aprendizado para os jovens que podem se formar novas lideranças nas comunidades" - Alcinei Carvalho, presidente da associação de Pixuna do Tapará.

Estudantes em planejamento de atividades de coleta.

Estudantes em planejamento de atividades de coleta.