Estudantes de escolas do Tapajós iniciam monitoramento de migração de peixes com App Ictio 

A partir do treinamento realizado na última segunda-feira (19/07), jovens de Solimões, Tapará Grande, Suruacá, Parauá (Santarém), Cametá (Aveiro), São Luiz do Tapajós (Itaituba) iniciaram o monitoramento de espécies migratórias; 

IMG_1893.JPG

A primeira experiência do grupo com o aplicativo do projeto Ciência Cidadã/WCS foi na Feira do Pescado em Santarém. Com aparelhos celulares androides e aplicativo ictio instalados, jovens de áreas ribeirinhas e indígenas fizeram os primeiros registros dos peixes capturados. Informações como espécie, peso, valor estimado para comercialização e quantidade foram registradas.

O treinamento no monitoramento foi realizado após apresentação do projeto, capacitação sobre a ecologia aquática e a biodiversidade dos peixes e curso sobre uso da ferramenta. Para os estudantes, a dinâmica possibilitou compreender o fluxo de migração dos peixes que viajam quilômetros na bacia Amazônica.

"Esse momento é muito importante porque as comunidades que estão na bacia do Tapajós são comunidades que vivem realidades diferentes e integram um ecossistema que é diferente das comunidades ribeirinhas da várzea. Essa dinâmica da pesca é muito importante inclusive como troca de experiência porque a realidade da atividade pesqueira na bacia do Tapajós. Essa troca de conhecimento é fundamental. O mais importante é que esse monitoramento é uma experiência que pode ser disseminada em outras regiões” - destacou a professora da Ufopa, Socorro Pena. 

Com os registros será possível identificar as espécies presentes no contexto das comunidades e contribuir para uma uma estatística de pesca. A experiência contribui significativamente para a rotina escolar por meio da educação ambiental, com ênfase na conservação da biodiversidade.

"É uma etapa muito importante onde eles estão sendo capacitados para começar a se integrar no processo de coletas das informações" - explicou um dos coordenadores do Mopebam, Ednaldo Rocha.

O Projeto Ciência Cidadã para a Amazônia está presente no Brasil, Equador, Estados Unidos, Colômbia, França, Peru e Bolívia com uma rede de organizações e pessoas que geram informações sobre peixes e águas na escala da Bacia utilizando uma abordagem participativa e tecnologias inovadoras e de baixo custo. O ictio se apresenta como uma estratégia de registro de observação de peixes na Amazônia. A aplicação e banco de dados sobre peixes migratórios se baseia na colaboração de populações tradicionais, incluindo indígenas, pescadores, manejadores, associações, estudantes, cientistas e professores.

Professores das comunidades do Tapajós integrantes da experiência do Projeto Ciência Cidadã.

Professores das comunidades do Tapajós integrantes da experiência do Projeto Ciência Cidadã.

Na região do Baixo Amazonas em Santarém, Brasil, o App Ictio e o Foldescope foram implementados em 2019 nas comunidades Aracampina e Aldeia Solimões para uso de estudantes das Escolas São Sebastião e Nossa Senhora das Graças, respectivamente, por meio da parceria entre as entidades Sociedade Para Pesquisa e Proteção Para o Meio Ambiente (SAPOPEMA), Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), Projeto Saúde e Alegria, Semed e WCS. 

Nesta nova fase, o projeto com uso de tecnologia digital será continuado nas duas e implementado em outras nove comunidades (Costa do Tapará, Santa Maria, Tapará Grande, Tapará Miri e Pixuna do Tapará, Suruacá, Parauá, Cametá (Aveiro) e São Luís (Itaituba). Nas comunidades do Tapajós o projeto é liderado pelo Movimento dos Pescadores do Baixo Amazonas - MOPEBAM, com apoio da TNC, que será responsável por executar os trabalhos no Tapajós, em Aveiro e Itaituba.

IMG_1907.JPG

“Pra nós está sendo uma satisfação muito grande pra nós que já participamos do projeto piloto. Vamos fazer com que nossos alunos possam se empenhar, fazer com que essa responsabilidade passe por eles de que é importante saber sobre a conservação ambiental e todas as problemáticas que afetam o nosso nosso ambiente” - Dailon Rômulo, professor de Solimões.

“Está sendo maravilhoso participar dessa segunda fase do projeto. Houve uma atualização do aplicativo, nós podemos registrar o local, nosso percurso de ir atrás atrás peixe, tamanho, peso e preço no mercado” - Estefane Santos de Oliveira - estudante de Solimões.

“Um orgulho de poder levar pra minha comunidade esse projeto de inovação. Hoje eu registrei curimatá, pirarucu”- Cassiane Miranda, estudante do Tapará Grande.

IMG_1863.JPG

O aplicativo Ictio foi desenvolvido pelo Laboratório de Ornitologia Cornell em colaboração com a Wildlife Conservation Society. A aplicação e banco de dados foram criados para uso por populações indígenas, pescadores, grupos de manejo, associações e cientistas. Por meio do app, busca-se entender o processo migratório de peixes na bacia amazônica e os fatores ambientais que influenciam essas migrações. Para tanto utiliza-se uma metodologia participativa, onde usuários realizam cadastro após baixar a plataforma na Google Play, podem informar listas de pesca com definição de espécies capturadas, local de pesca, peso e quantidade (ICTIO, 2020). A partir dessas informações, dados são gerados para a plataforma, possibilitando análise coletiva das espécies que passam por quais regiões. Na perspectiva de possibilitar abordagem da ciência cidadã, o projeto busca abordar as lacunas de informação para a conservação na Amazônia, reduzir drasticamente o custo de coleta dessas informações e capacitar os cidadãos como guardiões dos ecossistemas aquáticos.