Sapopema apresenta iniciativas sustentáveis desenvolvidas no Baixo Amazonas em Workshop de Ciências Ambientais

Evento promovido no âmbito da disciplina ‘métodos e técnicas em estudos ambientais’ do Programa de Pós-Graduação em Sociedade, Natureza e Desenvolvimento da Ufopa em parceria com a Universidade de Brasília (UNB), discutiu projetos de desenvolvimento sustentável na Amazônia

Futuros doutores em ciências ambientais conheceram sete experiências desenvolvidas na região do baixo Amazonas, para compreender a pluralidade da Amazônia, suas potencialidades e necessidades. O Workshop realizado na última terça-feira (23), debateu temas como Mercúrio na Amazônia, Gestão territorial no Oeste do Pará, Direito dos povos Indígenas e comunidades tradicionais, Evolução Geomorfológica, hidrologia e geoquímica na ria fluvial do Tapajós e Projetos desenvolvidos pela Sapopema.

O curso UQAMAZONE-MASSA 2022 - workshop de ciências ambientais integrou estudantes de doutorado do Canadá, de Brasília e da Ufopa, explicou o Professor adjunto da Universidade de Quebec, Stéphane Tremblay. “É um curso que se chama Massa - Meio Ambiente, Saúde e Sustentabilidade na Amazônia. A gente vem aqui com um grupo de quinze estudantes canadenses, oito estudantes da UNB e seis da Ufopa, para estudar e observar como é o desenvolvimento recente da região do Tapajós até Itaituba” – contou.

O Juiz de direito Ib Sales Tapajós foi um dos palestrantes convidados para falar sobre a temática dos povos indígenas e comunidades tradicionais na Amazônia. O magistrado socializou a experiência de pesquisa e trabalho com esses povos e comunidades, enfatizando as dificuldades que os indígenas e as comunidades tradicionais estão enfrentando para conseguir demarcar e proteger seus territórios tradicionais. “Particularmente nos últimos anos tem havido um desmonte dos órgãos públicos que trabalham nessas áreas como a Funai, Incra, Ibama têm sido duramente enfraquecidos e isso acaba afetando a vida de povos indígenas e comunidades tradicionais que estão se organizando e buscando alternativas para esses problemas. Proteger esses territórios é uma política pública fundamental não apenas para fazer justiça, mas promover a conservação ambiental da Amazônia” - ressaltou.

Sales lembrou que o artigo 231 da Constituição Federal obriga o Estado brasileiro a proteger e demarcar todas as terras indígenas, e prevê ainda, que essas terras são destinadas ao uso exclusivo dos indígenas, e que qualquer título de domínio existente no seu interior é nulo. Infelizmente, no Brasil, muitas leis são ignoradas. Um dos exemplos apresentados foi o da hidrelétrica de Belo Monte, planejada desde a década de 1980 e construída a partir de 2011, começando a operar em 2016. Apesar de causar fortes impactos nas comunidades indígenas do rio Xingu, a obra não respeitou o direito à consulta prévia previsto na Convenção 169 da OIT. O agronegócio, o garimpo ilegal e invasões em terras indígenas tem afetado as populações e consequentemente, o meio ambiente. “A proteção dos territórios indígenas e comunidades tradicionais ajuda a proteção do meio ambiente. É um fator decisivo para garantir que a Amazônia seja preservada para às futuras e presentes gerações” – pontuou o juiz.

Em contrapartida aos direitos violados, alternativas sustentáveis têm ganhado notoriedade e provado que é possível ter renda sem precisar praticar atos predatórios. O manejo sustentável do pirarucu é uma dessas ações compartilhadas durante o encontro pela coordenadora da Sapopema, Wandicleia Lopes. Foi um momento importante para sistematizar as demais iniciativas da ONG que implementa ações no Baixo Amazonas, conta: “socializamos os trabalhos que a Sapopema desenvolve junto às comunidades ribeirinhas, pescadores e pescadoras artesanais e também na região do Baixo Amazonas com enfoque para as ações de manejo que visam garantir a conservação do estoque pesqueiro. É um espaço de compartilhamento de conhecimento”.

Claus Ramalho, doutorando Centro de Desenvolvimento Sustentável da UNB, estuda a relação entre negacionismo climático e populismo no governo Bolsonaro. Para o jovem pesquisador, ter a vivência na região foi fundamental para entender de perto os impactos das ações governamentais para quem mora na região. “A experiência está sendo muito bacana, conhecendo várias perspectivas diferentes. Cada um com sua área temática. O mais interessante é esse contato direto com as pessoas que moram aqui na região e pesquisam a região”.