Pesquisa sobre pesca no baixo Amazonas é apresentada em congresso em La Rochelle, na França
/A 54ª edição da Conferência Internacional de Simulação e Jogos foi realizada no período entre 04 e 07 de julho em La Rochelle na França e reuniu apresentações de trabalhos sobre jogos sérios para educação, negócios e questões socioambientais. Na seção de jogos e demonstração, contou com a apresentação da pesquisa ‘Explorando a complexidade de socioecossistemas para desenvolver jogos como metáforas viáveis: lições de um caso de estudo sobre pesca na várzea do baixo Amazonas’, realizada pela pesquisadora da Sapopema, Neriane Nascimento.
O estudo destacou a iniciativa Pesca Viva, um jogo que vem sendo desenvolvido pela Sapopema por meio dos Projetos Saberes/Bonds/Psiop há quase dois anos com a região do Lago Grande e que está pautado nos acordos de pesca, envolvendo os municípios de Santarém, Juruti e Óbidos e integrando a participação das Colônias de Pescadores, Conselhos de Pesca, Sindicatos dos Trabalhadores Rurais e pescadores e pescadoras do Arapixuna e Lago Grande.
A criação do jogo envolve a participação ativa dos pescadores, agricultores e extrativistas que atuam na região de confluência do Lago Grande e Arapixuna. A primeira etapa foi de mapeamento participativo para construção do tabuleiro que foi revisado pelos pescadores e serviu como direcionamento para a versão do jogo que está sendo computadorizada. Ao longo de dez oficinas, avaliaram os diferentes perfis de pescadores que atuam na região e como a diversidade de atores sociais influencia na dinâmica da pesca e na construção e implementação dos acordos de pesca.
Quando concluído, o jogo se aproximará da realidade, integrando as observações das lideranças comunitárias que desenharam os elementos que demonstram as características da pesca nos ambientes de várzea. “Esse processo começou em novembro de 2021 e foi evoluindo ao longo desse tempo para retratar a realidade da pesca, que é dinâmica e diversa, testando com eles e nas comunidades. Foi um trabalho muito significativo e gratificante”, ressalta Neriane da Hora, pesquisadora da Sapopema.
Segundo o professor da UFRJ, Gustavo Mendes, também se alinha às demandas dos próprios comunitários. “As questões do acordo de pesca, fiscalização, organização das comunidades para fazerem seus manejos pesqueiros são temas que mobilizam a região. O projeto surge como uma iniciativa para fortalecer o diálogo entre os diferentes setores envolvidos com a pesca através de diversas ações com jogos pedagógicos. Pesca Viva porque representa os desafios para que possa se manter viva a identidade da pesca. Não apenas o recurso pesqueiro, mas a identidade do pescador artesanal”, conclui.
Com a homologação do acordo de pesca do Lago Grande em junho deste ano, o jogo cumprirá a importante função de disseminador das regras do instrumento. Para Wandicleia Lopes, da coordenação da Sapopema, a apresentação dos resultados durante a conferência internacional, é importante pois dá visibilidade ao processo de construção de instrumentos para as comunidades e feitos por elas, uma vez que participam ativamente da construção. “O estudo demonstra a importância de envolver diretamente os atores que de fato se beneficiarão com o produto, que neste caso, será um jogo educativo sobre o acordo de pesca, e que tem a finalidade de conservar a pesca na região”.
Na França o estudo foi apreciado por pesquisadores de outros países que elaboram propostas de jogos sérios com a finalidade de contribuir para soluções de problemas da sociedade. Para a pesquisadora que lidera o estudo, foi gratificante poder mostrar o que o Brasil, e mais especificamente, o Oeste do Pará, tem produzido em tecnologia para a conservação da pesca. “Propomos desafios de jogabilidade, representativo e apropriado para o acordo de pesca em conjunto com os atores locais”.