Como as tecnologias digitais auxiliam monitoramento por comunidades e aldeias para proteção territorial?

Seminário "Tecnologias Digitais e Proteção de Territórios na Amazônia" discutiu tema com organizações de base com atuação na região do Tapajós e baixo Amazonas. Edital pré-lançado apoiará no fortalecimento de vinte iniciativas comunitárias

As alterações do clima, os níveis de desmatamento, de queimadas, a mineração e invasões ilegais estão entre as ações monitoradas por aldeias e comunidades com o uso de equipamentos, aplicativos e plataformas. Além das situações de conflitos, a tecnologia tem ampliado as possibilidades para o mapeamento produtivo, zonas de castanhais, acordos de pesca, áreas sagradas, áreas de reprodução contínua dos animais e de impacto, explicou o técnico da gerência de monitoramento territorial indígena da Coiab, Tiago Parintintin: “O monitoramento com uso das tecnologias traz diversos benefícios, como demarcação e autodemarcação de territórios. A gente utiliza ferramentas, aplicativos de celulares, webgis e sites para monitorar e fazer a gestão e a proteção dos nossos territórios”.

Promovido no período de 20 e 21 de junho pela SAPOPEMA, Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGVces), Grupo de Estudos, Pesquisa e Extensão Socioeconômica da Amazônia (GEPESA - UFOPA) e o Projeto Saúde e Alegria, reuniu organizações para discutir a temática em Santarém. “O seminário é o processo inicial de um projeto que a Sapopema, FGV e o Gepesa estão implementando para capacitar as comunidades que vivem em defesa dos seus territórios para o uso de tecnologias digitais”, ressaltou Wandicleia Lopes, coordenadora Sapopema. 

Com a participação de especialistas e líderes comunitários, o impacto da conectividade e das tecnologias digitais na proteção territorial na Amazônia foi discutido, destacando o papel das comunidades em iniciativas de monitoramento independente. Alexandre Pimentel do Mopebam lembrou do desafio do plano de monitoramento do acordo de pesca do Lago Grande, que integra os municípios de Óbidos, Santarém e Juruti: “Os conflitos existem entre comunidades e municípios que adentram nos lagos e praticam a pesca predatória. A gente vem construindo um sistema que nos ajude a preservar os lagos de forma efetiva. Ter um sistema de internet para fazer as denúncias ajudaria muito”. 

Povos originários em busca da demarcação de terras indígenas participaram do encontro com a expectativa de fortalecer a luta em busca do reconhecimento de suas áreas. “O Cita representa 14 povos em 119 aldeias em três municípios. A tecnologia faz com que nós possamos identificar os territórios e onde tem grandes invasões. É importante manter a conexão, ter as tecnologias para fortalecimento das nossas redes de comunicação”, contou a coordenadora do CITA, Margarete Maytapú. 

Andreia Leão, professora da Ufopa/GEPESA, lembrou que a partir das articulações da Rede de Monitoramento Territorial Independente na Amazônia (Rede MTI) que reúne organizações da sociedade civil, lideranças comunitárias e instituições de pesquisa, iniciou-se uma aproximação em torno da temática e que é um instrumento por meio do qual é possível visibilizar a relação com o território, produzir conhecimento sobre os modos de vida, identificar impactos, danos e pressões vividas, registrar transformações nos ecossistemas, fazer a gestão de atividades produtivas e manejo dos recursos comunitários. “Várias organizações estão unidas com essa preocupação de fortalecer esses processos de monitoramento pelas próprias pessoas do local, escolher o que eles querem monitorar e o que querem divulgar. Trazer como pautas para defesa do território”, comenta. 

Iniciativas como a do Projeto Saúde e Alegria tem possibilitado a participação ativa das comunidades em processos de comunicação por meio de conexões satelitais. Fernanda Moreira, assistente de coordenação do Programa de Educom/PSA, disse que a estratégia busca garantir autonomia e participação ativa das comunidades e aldeias: “A gente vem trazer um pouco da nossa experiência com os projetos de conectividade como por exemplo o Projeto Conexões Povos da Floresta que tem a perspectiva de implementar 5 mil pontos de internet e aqui na região a gente já tem uma média de 54 polos instalados. Um dos focos é justamente o monitoramento e a defesa dos territórios que está articulado com outras perspectivas como o VAC Tapajós”. 

O seminário também foi palco do lançamento de vídeos da plataforma Vozes do Tapajós. 32 jovens do Programa ‘Repórteres dos rios e florestas’ liderado pela Sapopema com apoio do PSA no âmbito do Projeto Vozes do Tapajós, produziram vídeos sobre a situação do clima em suas comunidades, compondo um banco de dados de denúncias e soluções climáticas.

É um momento importante de diálogo e troca de conhecimento, visando devolver para a comunidade as informações coletadas e os resultados da pesquisa. Nesse ciclo, vamos aprendendo e pesquisando para levar novos conhecimentos” - Aldenize Xavier, reitora da Ufopa.

Pré-lançamento Edital Indica Tapajós

Com a proposta de implementar e fortalecer a inclusão digital por meio do uso qualificado de tecnologias digitais para gestão dos comuns e proteção territorial, organizações da sociedade civil poderão receber apoio para incidirem sobre políticas de inclusão digital e de proteção territorial na Amazônia. 

Organizações lideradas por mulheres de povos indígenas e tradicionais, agricultoras familiares e empreendimentos comunitários na bacia do Tapajós, grupos sociais, associações comunitárias e organizações da sociedade civil interessadas ou já atuantes na gestão de comuns e proteção territorial podem concorrer ao edital pré-lançado durante o seminário. 

É uma oportunidade de apoio para grupos locais que tenham interesse em fortalecer suas iniciativas de monitoramento territorial independente, com aportes financeiros voltados para capacitação e aquisição de equipamentos.

O projeto Indica Tapajós surge com a proposta visa repassar recursos para a aquisição de equipamentos para ser implementadas em vinte comunidades do médio e baixo Tapajós e área de várzea do Amazonas. O lançamento será no dia 01 de agosto com recebimento de candidaturas até 30 de setembro. Serão feitas capacitações para apoiar as organizações nesse processo”, explicou Kena Chaves, pesquisadora do FGV.