Pesquisadores estudam exposição mercurial em populações ribeirinhas

Estudo desenvolvido pelo Laboratório de Epidemiologia Molecular (LEpiMol) da Ufopa em parceria com Mopebam e Sapopema está sendo realizado até julho de 2023 em seis comunidades do Baixo Tapajós

A contaminação mercurial proveniente da mineração e da atividade de garimpagem tem causado uma série de preocupações por causar diferentes tipos de danos para a saúde humana. A exposição pode acometer desde trabalhadores do garimpo que inalam o vapor de mercúrio ou em pessoas que consomem frequentemente alimentos contaminados com mercúrio, como peixes. A contaminação pode causar danos ao pulmão, coração, fígado e em mulheres grávidas, gerar anomalias neurológicas no feto. 

Entender qual nível de exposição, onde ocorre a maior incidência são alguns dos objetivos do estudo “Promoção da saúde em comunidades tradicionais: desenvolvimento de tecnologias sociais para a redução dos níveis de mercúrio em comunidades indígenas, quilombolas, extrativistas e ribeirinhas”. Coordenada pela professora Dra. Heloísa Nascimento, a pesquisa está sendo realizada pela Ufopa com financiamento da TNC (The Nature Conservancy) através do Programa de Fomento a Projetos de Inovação Tecnológica Inovatec Sociobio  no período de julho de 2021 até julho de 2023, em parceria com o MOPEBAM e a SAPOPEMA em seis comunidades: Parauá, Solimões, Arapemã, Saracura, Parauá e Suruacá.

A intenção do levantamento é investigar o que está acontecendo e de que forma é possível prevenir os efeitos desta exposição. O estudo está sendo realizado em etapas que compreendem desde o diagnóstico de saúde, aplicação de questionários com questões socioeconômicas e de saúde, avaliação clínica, anamnese, quantificação dos níveis de Hg, dosagem de parâmetros bioquímicos, oficinas de capacitação e educação em saúde.

O tema preocupa quem consome pescado e quem comercializa. Entretanto, a coordenadora do estudo alerta que o estudo não tem como objetivo gerar impacto negativo para pescadores e feirantes. “Pelo contrário! Tenho uma preocupação muito grande com todos aqueles que de alguma forma dependem do peixe para sobreviver. Porém, também não posso deixar de informar a sociedade sobre um problema que é real e que pode trazer riscos para a saúde das pessoas. Essa pesquisa não avalia a exposição em peixes, pois não dosamos mercúrio em peixes. Essa pesquisa avalia a exposição mercurial nas pessoas, é uma pesquisa na área de saúde” – explica Nascimento.

Para a coordenadora da Sapopema, Wandicleia Lopes, entender os fatores que influenciam na exposição mercurial é fundamental para propor ações efetivas para proteger as populações locais: “A situação é preocupante e por isso entendemos que a pesquisa é muito importante para contribuir com todos e todas” - ressalta.

Nesta quinta-feira (17), o projeto foi apresentado aos pescadores durante assembleia na Colônia de Pescadores Z-20. As coletas e os objetivos do estudo foram apresentados aos pescadores que puderam esclarecer dúvidas sobre o assunto.

O programa Inovatec Sociobio prevê a implementação de tecnologias sociais, que no caso deste projeto será um aplicativo para dispositivos móveis (sistema Android). O app será criado para disponibilizar aos usuários informações gerais sobre a exposição mercurial, tais como sintomas e efeitos para saúde humana, consumo de peixes, e prevenção. Ele oferecerá informações para mulheres em idade fértil e gestantes sobre os riscos da exposição mercurial durante a gravidez e indicação de medidas preventivas. A aplicação contará com suporte para envio de dúvidas através de mensagem que serão respondidas pela equipe do LEpiMol.

O projeto deverá formar e capacitar pessoas nas comunidades sobre os riscos de contaminação, medidas de encaminhamento para tratamento médico dos casos mais importantes e redução dos riscos de contaminação por Hg, bem como toda a orientação sobre o reconhecimento dos sintomas de contaminação por exposição mercurial.

Fotos: Elizabete Matos/Mopebam.